quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Crânio dentro dos Rituais

O Crânio dentro dos Rituais

A principal função do "crânio dentro dos rituais" é a de servir como acesso aos trabalhos especiais. Por seu intermédio e vindo do outro lado surgem com freqüência um clarão de iluminação e o conhecimento que, em um instante, impulsiona todo o grupo vários degraus à frente no caminho. Muitas vezes confirmam-se os objetivos e as ambições do grupo ou coven. Além disso, há novos pensamentos e idéias colocados nas mentes do grupo, que ampliam o caminho a ser trabalhado e também abrem outros. Nesse sentido, o contato espiritual se torna ou ganha atributos do sacerdote-rei orientador e líder que habita a tumba real.

Em outro aspecto, torna-se o crânio da profecia. No passado, quando era mais utilizado para isso, segurava-se o crânio com as mãos enquanto se fazia a pergunta. Se ele ficava mais leve, a resposta era "sim". Se ficasse mais pesado, a resposta era "não". Hoje, em vez de segurá-lo, coloca-se o crânio no centro do círculo de um ambiente obscurecido, dirigindo-se as perguntas ao espírito de contato. Todos os presentes colocam a mente num tipo de fluxo livre, até que as respostas comecem a chegar.


Para se rsincera, não estou muito convencida de que todas as respostas sejam enviadas pelo espírito. Pelo simples fato de várias mentes estarem buscando uma resposta por meio do contato externo, isto propicia que elas mesmas encontrem as respostas dentro delas. Qualquer que seja a origem, as respostas chegam com o tempo e, posteriormente, mostram que estavam corretas. Existe outra forma de tradição em relação ao crânio dentro da Arte, que chegou até nós por intermédio de ancestrais muito antigos, embora hoje seja utilizada muito raramente, se é que ainda o é. É o uso do crânio como totem, o símbolo animista do clã, que evoluiu gradualmente para outra forma de ritual. Por isso, e também como assunto de interesse histórico, devo descrevê-lo.


Desde os tempos pré-históricos, tem havido o reconhecimento do elo mágico entre o caçador e sua vítima. Foram encontrados vários exemplos desse elo, desde as famosas pinturas rupestres da máscara de veado, do Deus coberto de hera ou do mago na Caverne des Trois Frères, em Arège, até as pilhas ritualísticas de ossos de animais escondidas no fundo das cavernas. Crescendo nesse conceito de harmonia mágica entre caça e caçador, passando por determinados rituais mágicos, o passo seguinte seria o reconhecimeto gradual por parte do clã ou da tribo do animal envolvido: urso, bisão, veado ou qualquer outro. Entrelaçado com o conceito do ritual para uma caçada proveitosa veio o reconhecimento de que a fertilidade das espécies caçadas era de importância primordial. Se elas não procriassem, significaria a fome para a tribo.


O tempo trouxe mudanças. Não havia mais rituais realizados no fundo das cavernas, mas ao ar livre, dentro do círculo. Como parte do ritual, a agora familiar estaca das Bruxas era montada como porta de acesso ao círculo. No lugar da estaca em forquilha que conhecemos, havia um mastro reto com um crânio do animal totêmico fincado na extremidade. Embora a vida tenha mudado da sobrevivência que dependia das caçadas para as atividades agrícola e pastoril, no ciclo da natureza e na fertilidade dos campos, o culto ao Deus Cornudo e a Deusa Grávida ainda tem garantindo o seu lugar.


Nessa fé havia ainda o conceito do sacrifício animal como agradecimento aos deuses guardiãos dos rebanhos e manadas e, acima de tudo, à Deusa Mãe da terra. Na verdade, parte do animal sacrificado era consagrada aos deuses e queimada no fogo sagrado. O resto era cozido e comido depois pelo grupo. Era festa sagrada, partilhada pelos deuses e pelo povo. O que tinha sido praticado dentro das cavernas era realizado agora ao ar livre, com envolvimento maior do grupo ou clã nos rituais. Mesmo que as circunstâncias e o estilo de vida tenham mudado, o conceito de fertilidade permanece o mesmo. mudando apenas na aparência externa. Em vez de boa caçada, orava-se por boa colheita.


À medida que o conceito da Deusa e dos Deuses Antigos tomava forma mais humana, a natureza do sacrifício também mudava.

ssim como a vida se tornava mais complexa e organizada, expandia-se a visão sobre os deuses. Em vez do sacrifício animal, surgia o conceito do mensageiro humano. Deuses e Deusa ganhando caráter mais humano podiam ser contatados por um ser humano, essa alma levando as preces e os pedidos da tribo. Desenvolvido paralelamente ao conceito de mensageiro dos deuses, e com o mesmo objetivo de força e bem-estar para a tribo, surgiu o sacrifício do Rei Divino, em que a força da tribo era fixada em uma pessoa não por direito de nascimento ou de herança, mas por seleção. Enquanto o rei fosse forte e vigoroso, assim seria a tribo. Sacrificado em seu apogeu, o rei tornava-se companheiro dos deuses pelo bem da tribo.

Posteriormente esse conceito foi modificado, e o sacrifício voltou mais uma vez a ser animal, com o que surgiu o conceito muito interessante de bode expiatório. O infeliz aniaml, portador de todos os males e pecados da comunidade, deveria levá-los diante dos deuses junto com a sua vida, como símbolo de expiação e pagamento para libertação_ uma vida substituindo a do rei.


Com esse conceito da possibilidade de transferir doenças e pecados para um animal a ser sacrificado e, ao mesmo tempo como lembrança do sacrifício do Rei Divino, o Mestre [Sumo Sacerdote/ Magister] detém os poderes de um líder, e deve pagar um preço por esses poderes.


Durante sete anos, pelas graças da Senhora [Suma Sacerdotisa/ Magistra], o Mestre lidera o coven. No final do sétimo ano, o preço dessa regra é transferido para o "Carneiro Real". A vida do carneiro é oferecida à Deusa, substituindo a do Mestre. As partes sagradas são oferecidas ao fogo sagrado, e as outras são utilizadas nas festas sagradas. A cabeça do carneiro sacrificado é queimada ao lado da "Ponte entre os Dois Mundos". Por essa razão, o avental algumas vezes usado pelo Mestre como parte doas seus paramentos, como no caso dos utilizados por outros membros, simboliza nada mais do que o avental do açougueiro.


Hoje em dia não há mais necessidade do sacrifício. Ele foi substituído pelo juramento do ofício feito e confirmado pela Senhora e pelos quatro oficiantes a cada sete anos. Entretanto, podemos ocasionalmente achar um grupo que marca a sua porta de entrada para o círculo com uma cabeça queimada de carneiro como lembrança do espírito-totem animista do clã. Da mesma maneira, a estaca ou mastro em forquilhae o símbolo do jovem Deus Cornudo das florestas e da caça, aquele que permanece entre o coven e a Mãe, a Deusa.

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