A escultura com este título foi executada há 8 anos no atelier da Avenida Garibaldi, em Salvador, Bahia, e se encontrava na entrada do Parque de Esculturas do Espaço Cravo, no Parque Metropolitano de Pituaçu, como a mais importante escultura por sua característica e monumentalidade.
A obra foi adquirida, pessoalmente, pelo Prefeito Paulo Conde quando em Salvador inaugurava o monumento ao Deputado Luis Eduardo Magalhães. A transação está sendo realizada pela empresa LAMSA que intermedia a aquisição e instalação na Linha Amarela, se possível, num local de entroncamento viário.
A escultura não foi criada para ser cultuada por nenhum grupo ou vertente religiosa, é apenas uma escultura contemporânea de grande porte, como muitas outras de minha autoria, inspiradas, algumas delas, nas figuras legendárias dos Orixás do Candomblé, isto sem sujeição documental ou ortodoxia iconográfica.
O próprio título "Exu dos Ventos" (ou se quiser "das tempestades") é alheio à liturgia religiosa afro-baiana, já que Orungan é que é o senhor dos ventos. Trata-se de uma montagem de largas proporções e, curiosa e paradoxalmente, utilizei recortes (sucata) de um relevo monumental de uma cruz cristã, executada para a lateral do importante edifício da Casa do Comércio da Bahia.
O que me parece importante para a criatividade nas artes visuais é o objetivo do enriquecimento da cultura humana. Os temas podem se inspirar em qualquer culto religioso ou personagem legendário, sem que seja necessária a função unicamente religiosa.
Para o artista, o que importa é a inspiração motivadora, ele não necessita estar envolvido diretamente com o culto religioso, ao contrário. A arte, através dos tempos, tem contribuído para a cultura, enriquecendo-a. O que a arte representa o enriquecimento da tradição através da multiplicação interpretativa, quebrando, assim, a rigidez da ortodoxia religiosa ou profana.
As religiões chamadas universais, que têm uma riquíssima tradição nas artes, representam, potencialmente, os mesmos elementos motivadores de um culto tribal africano. O cerceamento da liberdade interpretativa nas artes aponta na direção da intolerância e do obscurantismo.
O "Exu dos Ventos" é uma escultura livre de preconceitos, que responde, apenas, pela interpretação e criatividade de um personagem simbólico e legendário, cujas raízes ancestrais encontram-se na África. A mesma África, que, segundo estudiosos, deu origem à sociedade humana.
É o "Exu dos Ventos" uma escultura móvel (mobile) na qual se percebe apenas o corpo apoiado no piso, com costelas que servem de escada para manutenção da peça, sobre a qual equilibra-se o tronco e dois braços extremamente geometrizados, que, por sua vez, é encimado pela forma de uma cabeça na qual se percebem um olho e dois chifres.
Todo o tratamento da escultura é feito em planos simétricos com articulações angulares. A existência dos chifres na figura é uma das poucas interpretações da arte popular baiana, já que o Orixá Exu, na África, é cultuado na forma de um falus fincado num montículo de terra.
A criatividade é fruto da imaginação do autor através de um processo metafórico em que o tema inspirador é transfigurado pelo artista, adquirindo, assim, uma representação não-religiosa, e sim artística.
Ao longo dos últimos 50 anos da minha atividade de artista, tenho usado temas que abordam representações mais ou menos figurativas, muitos deles inspirados nas figuras do panteon afro-baiano, indígena e cristão.
Pontos Riscados
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